quinta-feira, 2 de julho de 2009

FALANDO EM LEITURA...


Falando em leitura, podemos ter em mente alguém lendo um jornal, revista, folheto, mas o mais comum é pensarmos em leitura de livros. E quando se diz que uma pessoa gosta de ler, “vive lendo”, talvez seja “rato de biblioteca”, se “passa o tempo de cima dos livros”, na certa estuda muito. Sem dúvida o ato de ler é usualmente relacionado com a escrita, e o leitor visto como decodificador da letra. Bastará, porém decifrar palavras para acontecer a leitura? Como explicaríamos as expressões de uso corrente: “fazer a leitura” de um gesto, de uma situação; ler a mão, ler o olhar de alguém, ler o tempo, o espaço, indicando que o ato de ler vai além da escrita?

Se alguém na rua me dá um encontrão, minha reação pode ser de mero desagrado, diante de uma batida casual, ou de franca defesa, diante de um empurrão proposital. Minha resposta a esse incidente revela meu modo de lê-lo. Às vezes passamos anos vendo objetos, coisas e até pessoas comuns ao nosso cotidiano, sem jamais tê-los de fato enxergado. Um dia, por algum motivo nos encontramos diante de um deles como se fosse algo totalmente novo. Será assim também com a leitura?

Com freqüência nos contentamos a “passar os olhos” no que temos de ler, não acrescentamos ao ato de ler algo mais de nós além do gesto mecânico de decifrar os sinais. Se o texto é visual, ficamos cegos a ele, ainda que os nossos olhos o fixem. Se for sonoro, parecemos surdos.

Ao começarmos a pensar a questão da leitura é bom lembrar Paulo Freire: “A leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele.” Ou relembrar Mário Quintana:

“ O mais difícil, mesmo, é a arte de desler.”


Fonte: MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. 2004.

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